Se antes o presencial era a regra, com a pandemia de Covid-19 ele se tornou a exceção. A necessidade de manter o distanciamento social transformou o ensino híbrido no protagonista do debate educacional.
No momento em que este texto é escrito, onze estados brasileiros mantiveram aulas no formato híbrido, nove autorizaram o retorno de todos os estudantes ao presencial e dois permitiram a volta de apenas algumas turmas do ensino fundamental e médio.
Escolas com limitações no espaço físico que impedem o distanciamento seguem com encontros remotos no Amapá, Pará, Paraná e Santa Catarina. Estudantes com comorbidades podem continuar a participar das aulas à distância no Mato Grosso, Pará, Paraná e Santa Catarina.
O que se viu neste meio tempo, entre a adoção das aulas remotas e o retorno gradual ao presencial, foi um desconhecimento sobre como o ensino híbrido funciona de fato.
Por isso preparamos este artigo com as informações essenciais sobre esse formato, que não é uma simples transposição das aulas presenciais para o online.
Confira o que você vai ver por aqui:
- O que é ensino híbrido
1.1 Pilares do ensino híbrido
2.1 Modelos do ensino híbrido - O ensino híbrido antes, durante e depois da pandemia
- As vantagens e desvantagens do ensino híbrido
- O ensino híbrido e as metodologias ativas
O que é ensino híbrido
Chamado de "blended learning", em inglês, o ensino híbrido é a combinação de métodos do ensino presencial e do online para potencializar o desenvolvimento da aprendizagem dos discentes.
O termo “online” se refere ao uso de tecnologias digitais que possibilitem o educador personalizar o ensino de acordo com o perfil e desempenho do estudante, a partir da coleta e análise de informações. Ou seja, não necessariamente o ensino híbrido vai depender da conexão com a internet.
Ainda, Lilian Bacich, referência nacional no tema e professora do curso Neurociência e aprendizagem no contexto escolar da Pós Educação Unisinos, define o ensino híbrido como:
Uma das principais características do ensino híbrido é o maior controle que o estudante tem sobre o tempo, lugar, formas e ritmo de estudo. Ele abandona a inércia do modelo expositivo de ensino para assumir uma postura mais ativa na construção do conhecimento.
Nesse formato, o professor assume o papel de mediador e facilitador, o que permite que ele dedique mais tempo para acompanhar o desenvolvimento individual do discente, pois não terá que se concentrar apenas na exposição do conteúdo durante todo o período de aula.
É preciso ressaltar que o ensino híbrido não anula o tradicional, nem que um é bom e o outro é ruim. O ensino híbrido aprimora o modelo convencional para atender as demandas educacionais do século 21. Não se pode perder de vista a importância da avaliação, do objetivo da aula e da explicação do professor no meio do debate.
Pilares do ensino híbrido
- Estudante deve aprender pelo menos no ambiente virtual;
- O aprendizado deve acontecer em um local físico que não seja a casa do estudante;
- Aprendizagem presencial e online devem estar integradas.
Modelos do ensino híbrido
Os educadores podem trabalhar com dois modelos de ensino híbrido, o sustentado e o disruptivo. Conheça as principais características e metodologias.
1. Modelo sustentado
O ensino híbrido é inserido aos poucos no dia a dia da turma, sem um distanciamento abrupto com o convencional. A aprendizagem acontece em duas dimensões:
- Extrínseca: depende de notas, rotina e procedimentos;
- Intrínseca: prioriza a construção do conhecimento.
Os principais métodos do modelo sustentado são:
- Rotação por estações: os estudantes revezam as atividades a serem realizadas, sob a orientação do professor. Eles são organizados em grupos para realizar as tarefas e debater o conteúdo.
- Sala de aula invertida: os discentes estudam o conteúdo antes da aula para apresentá-lo aos colegas. Saiba mais sobre a metodologia neste artigo.
- Laboratório rotacional: a aula começa no modelo convencional, para em seguida os estudantes migrarem para o laboratório de informática para realizar as tarefas.
2. Modelo disruptivo
As aulas são organizadas por meio dos estímulos. A maior parte das atividades é feita online, para complementar o que será desenvolvido nos modelos sustentados.
Os principais submodelos são:
- Rotação individual: cada estudante recebe uma lista de atividades a serem realizadas dentro e fora da escola;
- Flex: a lista de atividades é personalizada conforme as competências e habilidades da turma. O professor fica à disposição para tirar dúvidas;
- À la carte: os objetivos de aprendizagem e o conteúdo é definido pelo docente, mas é o discente quem deve organizar a rotina de estudos;
- Virtual enriquecido: estudantes têm pelo menos uma sessão de aprendizagem presencial com o professor responsável pela disciplina.
O ensino híbrido antes, durante e depois da pandemia
Antes da pandemia, o ensino híbrido se concentrava no ensino superior, embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 1996, já previsse o uso de ensino à distância no artigo 80.
A Lei n.° 13145, de 2017, trouxe complementações à LDB e definiu que programas de ensino à distância deveriam ser instaurados em situações emergenciais para o ensino fundamental e médio:
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizada como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais. [...]
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer competências e firmar convênios com instituições de educação a distância com notório reconhecimento, mediante as seguintes formas de comprovação: VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou educação presencial mediada por tecnologias.
No entanto, a discussão sobre a adoção do ensino híbrido na rede pública e privada só ganhou força com em março de 2020, com o fechamento das escolas em decorrência da pandemia de Covid-19.
O Brasil foi o país que manteve as escolas fechadas por mais tempo, segundo levantamento de 2021 da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). Foram 178 dias sem aulas presenciais na educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental no ano de 2020, o triplo em comparação à média de outros países.
Neste meio tempo, professores e estudantes tiveram que se adaptar ao modelo remoto e aprender a usar novas ferramentas para não perder o ano letivo. A mais utilizada foi o WhatsApp, de acordo com levantamento da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em parceria com o Unicef e Itaú Social.
O mensageiro foi o escolhido por não exigir dados móveis e por estar presente na maioria dos celulares, muitas vezes a única forma de acesso à internet dos estudantes brasileiros. Estima-se que 95,3% das redes municipais recorreram ao WhatsApp e ao material impresso para continuar com as aulas durante a pandemia.
>>> Inspire-se com a história de escolas que inovaram com poucos recursos.
Outra dificuldade encontrada por docentes e discentes foi a falta de experiência com o ensino remoto. A pesquisa “Trabalho Docente em Tempos de Pandemia”, realizada em 2020 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), mostrou que 89% dos professores da rede pública não tinham experiência para dar aulas remotas antes da pandemia e 21% dos entrevistados contaram que têm dificuldades para lidar com tecnologias digitais.
mídia que escolas que unem o ensino remoto e presencial estão praticando o ensino híbrido, com a transmissão simultânea do que acontece em sala de aula para os estudantes que estão em casa, por exemplo.
No entanto, o ensino híbrido só acontece, de fato, quando há um diálogo entre as modalidades, a partir de um planejamento estratégico que recorre às ferramentas digitais para personalizar o processo de aprendizagem e dar mais autonomia ao estudante.
Para o pós-pandemia, a previsão é que a alternância entre aulas presenciais e remotas continue. O Conselho Nacional de Educação (CNE), inclusive, está criando um documento com orientações sobre o ensino híbrido para a educação básica e superior, o que deve diminuir a confusão entre os conceitos.
As vantagens e desvantagens do ensino híbrido
Já que a tendência é que o modelo faça parte da rotina escolar, é importante conhecer as vantagens e desvantagens do ensino híbrido. Assim você vai estar mais bem preparado para a nova forma de trabalhar no pós-pandemia.
As vantagens do ensino híbrido são:
- Maior autonomia e envolvimento do estudante, que adota uma postura mais ativa e assume o centro do processo de ensino e aprendizagem;
- Maior personalização do ensino, de acordo com as competências e habilidades de cada estudante;
- Realizar mais atividades criativas e supervisionadas pelo professor em sala de aula, pois o conteúdo será previamente estudado em outros ambientes de aprendizagem;
- Professor tem mais tempo para acompanhar o desenvolvimento do aprendizado dos estudantes, identificar dificuldades e adequar o planejamento;
- Criação de um ambiente escolar mais conectado à realidade do estudante, que é um nativo digital;
- Adequação às orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em particular ao desenvolvimento da competência 5, que trata sobre o uso das tecnologias digitais no dia a dia das escolas.
Já a principal desvantagem está relacionada à desigualdade social brasileira: a falta de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) por parte de estudantes.
Estima-se que metade das famílias brasileiras que recebem até um salário mínimo não conseguem acessar a internet em casa, de acordo com a pesquisa "TIC Domicílios 2019", feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic).
Muitas destas famílias, aliás, compartilham um único celular. Ou seja, o estudante precisa pedir o smartphone emprestado para os pais e dividi-lo com os irmãos para fazer as atividades remotas.
O Censo Escolar 2020 também traz números que expressão a desigualdade. Enquanto que 85% das escolas particulares têm acesso à internet banda larga, apenas 52,7% das escolas da rede municipal têm este tipo de conexão.
O ensino híbrido e as metodologias ativas
Pelo que você leu até aqui, deu para perceber que uma das características fundamentais do ensino híbrido é a maior independência do estudante na rotina de estudos, não é?
Para que isso aconteça, o professor deve recorrer às metodologias ativas, que são estratégias de ensino baseadas na participação efetiva do discente na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida.
Conheça as principais metodologias ativas neste artigo.
As metodologias ativas potencializam o aprendizado por meio de jogos e projetos que aliam colaboração e personalização. O estudante se envolve diretamente no processo de forma participativa e reflexiva, pesquisando e formulando hipóteses com o auxílio do professor.
Dessa forma, ele aumenta sua flexibilidade cognitiva, que, na prática, é expressada em uma maior capacidade de realizar diferentes tarefas, fazer operações mentais mais complexas e se adaptar a situações inesperadas.
Ainda, as metodologias ativas são uma forma de promover a aprendizagem significativa, desde que haja a interação intencional entre conhecimentos prévios do estudante com o conteúdo novo da aula.
O ensino híbrido combinado com as metodologias ativas não apenas dá protagonismo ao educando na construção do conhecimento. Ele também dá mais espaço para educadores inovarem no dia a dia, contribuindo assim com o desenvolvimento acadêmico e socioemocional de crianças e adolescentes.
Esperamos que este artigo seja um estímulo para você aprofundar seus conhecimentos sobre ensino híbrido. Se quiser saber mais sobre inovação na educação, confira os materiais que preparamos sobre o tema no Blog da Pós Educação Unisinos.