Apenas 5% dos estudantes terminam a educação básica com um conhecimento adequado em matemática. Quais abordagens de ensino podem melhorar esse índice?
Os dados do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) são preocupantes. A avaliação nacional de 2019 mostra que 95% dos estudantes da rede pública de ensino terminam o ensino médio sem o conhecimento esperado de matemática.
Qual seria a melhor forma para mudar esse quadro? Entre as soluções apontadas por pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP) está o aprimoramento das técnicas de ensino para que os estudantes não criem um relacionamento negativo com o conhecimento matemático. Afinal, quantas vezes você já ouviu alguém falar que "não leva jeito para matemática"?
Uma das técnicas que tem conquistado professores do ensino fundamental e médio é a modelagem matemática, principalmente por mostrar a crianças e adolescentes que números, cálculos e fórmulas são, sim, úteis para a vida delas.
Se você está em busca de novas formas de ensinar matemática, é importante conhecer o conceito de modelagem matemática e como aplicá-lo no dia a dia escolar. É o que contaremos logo mais.
A modelagem matemática é uma estratégia de ensino que relaciona situações do dia a dia do estudante a conteúdos matemáticos. A ideia é abordar fenômenos das mais diferentes áreas científicas para educar matematicamente, invertendo assim um modelo comum de ensino.
Na modelagem matemática, o problema que será discutido em aula é apresentado antes para a turma. A partir dele é que emergem os conteúdos matemáticos, que precisam ser usados pelos estudantes para oferecer soluções para o mundo real.
Há professores que preferem que a turma escolha os temas que gerarão o conteúdo matemático, enquanto outros educadores optam por eles mesmos definirem as situações do dia a dia que serão abordadas, para respeitar o programa estabelecido pelo currículo. Não existe uma ordem certa para aplicar a estratégia da modelagem matemática, mas é preciso que ela seja estabelecida no plano de aula.
Independentemente da ordem, a modelagem matemática faz com que o estudante busque soluções para os problemas a partir de conhecimentos prévios, recorrendo a diferentes informações para resolver, avaliar e refletir sobre a questão. Isso o coloca na posição de sujeito do processo cognitivo, ou seja, é ele próprio quem atribui significados ao conteúdo abordado em aula.
Fora do meio educacional, o termo "modelagem" é usado para definir a percepção da matemática em situações reais das mais variadas áreas de atividade humana. Ele passou a se referir a uma estratégia de ensino no começo do século 20, ganhando força no Brasil no final da década de 1960, a partir das pesquisas dos professores Aristides Camargo Barreto, Rodney Carlos Bassanezi e Ubiratan D'Ambrósio.
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O primeiro passo é selecionar o problema que será apresentado, que pode ser escolhido pela própria turma ou pelo professor, como falamos acima. De forma geral, a modelagem matemática pode ser aplicada de três formas, segundo o Profº Drº Jonei Cerqueira Barbosa, da Universidade Federal da Bahia (UFBA):
Nos três casos, o professor assume o papel de orientador e coordenador do processo de ensino e aprendizagem, dando maior independência ao estudante na construção do conhecimento.
Aliás, a modelagem matemática pode ser combinada à metodologia de aprendizagem entre pares, em que os discentes ajudam uns aos outros a tirarem dúvidas e encontrarem respostas para a questão. Ela é uma ótima estratégia para trabalhos em equipe.
Você pode organizar uma aula com modelagem matemática em 4 momentos:
Nos momentos 2 e 3, que envolvem o diálogo entre os estudantes, a turma acaba por produzir três tipos de discussão no ambiente de modelagem matemática:
Esses 4 momentos não precisam acontecer em uma aula só. Dependendo da complexidade do conteúdo matemático e da situação-problema, você pode dividir o projeto em mais horas-aula e dias.
Ao levar a modelagem matemática para sala de aula, tenha em mente que os estudantes precisam interagir com os objetos matemáticos, e não apenas os observar. Aqui vale a ideia de que o conhecimento não está nem no sujeito, nem no objeto, mas na interação entre os dois.
Quando usar a modelagem matemática em sala de aula, lembre-se de checar as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e montar um plano de aula de acordo com o currículo da instituição de ensino em que você trabalha. Também esteja preparado para a reação de alguns pais, supervisores e colegas, que têm uma visão pré-estabelecida de como deve ser uma aula de matemática e podem estranhar a proposta da modelagem.
Lembra dos exemplos clássicos que usavam frutas para apresentar problemas de subtração, adição, multiplicação e divisão? Eles são coisa do passado.
A modelagem matemática recorre a exemplos mais verossímeis (afinal, por que Joãozinho compraria 100 maçãs?), inspirados em situações que fazem parte da vida do estudante. Algumas situações que você pode abordar em sala são:
As ideias acima são bastante genéricas, mas são um bom ponto de partida caso você ainda esteja aprendendo a usar a modelagem matemática. Com a prática, você conseguirá identificar oportunidades no contexto escolar para desenvolver essa estratégia de ensino.
Uma dica é acompanhar o jornal da sua cidade e levar para a sala um problema que afete a comunidade: buracos nas ruas, cães abandonados, o preço da tarifa de ônibus... Procure matérias que tragam informações qualitativas e quantitativas.
Você também pode conversar com os professores de outras disciplinas para ver quais assuntos atuais eles estão abordando nas aulas. Assim pode preparar um conteúdo multidisciplinar e mostrar para a turma as relações entre as diferentes áreas do conhecimento.
Agora que você já sabe mais sobre modelagem matemática, que tal colocar em prática? Depois conte aqui nos comentários qual foi o resultado.
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