Como levar a educomunicação para a sala de aula

Postado em 16 de out de 2023
Loading...

Na Era da Informação, como formar cidadãos capazes de criar, interpretar e compartilhar conteúdo de forma ética e responsável?

A educomunicação fornece as ferramentas necessárias para professores ensinarem crianças e adolescentes a lidarem com as diferentes mídias.

Conheça os fundamentos dessa área transdisciplinar a seguir:

Descubra quantos cursos de graduação existem no Brasil!

O conceito de educomunicação

A educomunicação é um conjunto de práticas educacionais que visam a construir ecossistemas comunicativos nos mais diferentes ambientes de relacionamento humano, de acordo com a Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom).

As práticas educacionais envolvem o planejamento, a execução e a avaliação de programas e atividades educomunicativas com crianças, adolescentes e adultos. Essas ações ampliam a capacidade de expressão do indivíduo e estimulam o pensamento crítico sobre o conteúdo veiculado nas mídias tradicionais e digitais. Elas podem ser planejadas e executadas por pedagogos, professores e comunicólogos consultores em educomunicação.

Já um ecossistema comunicativo é toda rede que conecta pessoas com interesses em comum. Ele deve ser aberto, participativo e democrático para que o potencial de expressividade de cada indivíduo seja ampliado. Pode ser a turma de uma escola, um grupo de pais ou uma comunidade em uma rede social.

A palavra “educomunicação” também denomina um campo do conhecimento transdisciplinar, que se consolidou nos cursos de Comunicação e Educação das universidades latino-americanas na década de 1990.

🔵Leia também: Comunicação Social: entenda as diferenças entre as habilitações

Qual o objetivo da educomunicação

A ABPEducom coloca como objetivo da educomunicação o fortalecimento do protagonismo de crianças, adolescentes e adultos no exercício do direito à expressão, por meio da criação de ecossistemas comunicativos em espaços formais e informais de aprendizagem.

Esse objetivo macro norteia o planejamento de programas e projetos educomunicativos, que têm como metas principais:

  • Fortalecer o protagonismo comunicativo de todas as pessoas, independentemente da idade, gênero, etnia e origem socioeconômica;
  • Ampliar da capacidade de expressão de todas as pessoas, seja em contextos presenciais ou virtuais;
  • Usar ações educativas como práticas de diálogo social que promovam a democracia;
  • Promover a alfabetização midiática e o letramento informacional, por meio de exercícios que estimulem o consumo crítico do que é veiculado pelos meios de comunicação;
  • Fomentar o uso criativo e participativo das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) em práticas educativas.
 

As 7 áreas de intervenção da educomunicação

O termo “intervenção” em educomunicação se refere à realização de atividades que ajudem crianças e adolescentes a se relacionarem com as mídias, além de contemplar ações de mediação e de inovação.

As intervenções na educomunicação têm como pilares o desenvolvimento pessoal do indivíduo, o bem-estar coletivo da sociedade e a vivência democrática plena. Elas são separadas em 7 categorias, mas compartilham os mesmos valores:

  • Igualdade de acesso aos meios de expressão e de comunicação;
  • Relação dialógica e horizontalizada entre todos os envolvidos no ecossistema comunicativo;
  • Tomada de decisão participativa

Conheça o foco de cada uma das intervenções:

1. Educação para a comunicação

Voltada para capacitar crianças, adolescentes e adultos a praticarem uma comunicação dialógica, usando ou não as novas tecnologias.

2. Pedagogia da comunicação

Estimula o uso de recursos da comunicação para facilitar a construção do conhecimento, como portais de notícias, podcasts, redes sociais e vídeos.

3. Gestão da comunicação

Implanta e otimiza fluxos de comunicação nos ecossistemas comunicativos.

4. Mediação tecnológica na educação

Inserção das novas tecnologias na educação, o que inclui promover a alfabetização digital e o desenvolvimento das competências digitais.

5. Produção midiática educativa

Produção de conteúdo midiático para fomentar a aprendizagem de valores e conceitos.

6. Expressão comunicativa por meio de linguagens artísticas

Ensino do diálogo e da comunicação pela emoção por meio das linguagens artísticas.

7. Epistemologia da educomunicação

Divulgação, pesquisa e estudo sobre educomunicação.

Pesquisadores já vislumbram a criação de uma oitava área de intervenção da educomunicação, relacionada à conscientização sobre as mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente.

De qualquer modo, uma prática educativa pode ser categorizada em mais de uma área de intervenção da educomunicação.

Um jornal escolar produzido pela turma do 9º ano, por exemplo, pode ter como referencial a “pedagogia da comunicação”, pois ajuda as crianças a dominarem o uso da Língua Portuguesa. Ao mesmo tempo, é uma ação de “educação para a comunicação”, pois a produção de um jornal ajuda os estudantes a entenderem o papel que a imprensa tem na sociedade e quais critérios são adotados para definir o que é notícia ou não.

🔵Leia também: Descubra a melhor pós-graduação em educação para a sua carreira

A educomunicação na BNCC

bncc-mockup

As iniciativas de educomunicação contribuem para o desenvolvimento das competências gerais previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em especial as de número 4 e 5:

  • Competência geral 4: Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
  • Competência geral 5: Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

Falando especificamente das etapas formais de ensino, a educomunicação contribui de maneira geral com os 6 direitos de aprendizagem e desenvolvimento da Educação Infantil, que são:

  1. Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.
  2. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
  3. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
  4. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
  5. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens.
  6. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.

🔵Leia também: Os 7 melhores cursos de pós-graduação em Educação Infantil

A primeira área de intervenção da educomunicação, “Educação para a comunicação”, fica explícita na BNCC a partir da descrição da sexta competência específica de linguagens que deve ser desenvolvida ao longo do Ensino Fundamental:

  • Competência específica 6 de linguagens para o Ensino Fundamental: Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos.

Para o Novo Ensino Médio, a BNCC aborda a intervenção da educomunicação nas competências específicas 2 e 3 de Linguagens e suas Tecnologias:

  • Competência específica 2 de linguagens para o Ensino Médio: Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza.
  • Competência específica 3 de linguagens para o Ensino Médio: Utilizar diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) para exercer, com autonomia e colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e solidária, defendendo pontos de vista que respeitem o outro e promovam os Direitos Humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global.

3 atividades educomunicativas para se inspirar

Depois de conhecer os aspectos teóricos, hora de colocar a educomunicação em prática com a sua turma!

As atividades abaixo são um resumo dos planos de aula disponibilizados pelo projeto Nova Escola. No final de cada tópico, você vai encontrar o link para consultar o plano na íntegra.

1. Conhecendo o formato vlog

  • Indicado para: estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental.
  • Objetivo: identificar o gênero do discurso vlog e suas principais características, além de estimular a turma a opinar sobre a prática midiática.
  • Habilidades da BNCC: EF35LP10, EF15LP12 e EF15LP13.
  • Materiais necessários: computador conectado à internet, projetor multimídia e folhas pautadas.

Após explicar o tema da aula, o professor deve instigar a turma a pontuar as características que conhecem do gênero “diário” e dos vlogs que já acompanham na internet.

Em seguida, exemplos de vlog devem ser exibidos para as crianças. Aproveite para perguntar quais outros gêneros de conteúdo digital a turma conhece e quem já fez um vídeo nesse formato.

Por fim, separe a turma em duplas e peça para anotarem nas folhas pautadas as impressões que tiveram sobre os exemplos assistidos, como a linguagem utilizada e as expressões corporais. Também peça para descreverem quais etapas eles acham que são necessárias para produzir um vídeo no formato de diário.

Consulte o plano de aula completo.

2. Entendendo o gênero entrevista

  • Indicado para: estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental.
  • Objetivo: identificar os graus de parcialidade e imparcialidade nas marcas do gênero entrevista, reconstruindo o contexto de produção.
  • Habilidade da BNCC: EF06LP01
  • Materiais necessários: computador conectado à internet, projetor multimídia.

O professor deve ler junto com a turma a entrevista digital com o grafiteiro Speto, publicado em 2017 no jornal O Povo.

Explique para a turma que vocês vão trabalhar um texto que aborda o grafite. Em seguida, projete algumas fotos desse tipo de ilustração.

Pergunte para os estudantes se eles sabem o que é um grafite e o que pensam sobre essa forma de expressão. Depois, fale que vocês vão ler em conjunto uma entrevista com um grafiteiro. Nesse momento é importante perguntar o que a turma sabe sobre o gênero “entrevista”.

Antes de passar a entrevista, mostre o título da matéria: “Entrevista com o grafiteiro Speto”. Incentive as crianças a falarem quais perguntas e respostas imaginam encontrar.

Elas devem ser divididas em grupos de 3 ou 4 pessoas. Cada um deles vai ler a entrevista e, em conjunto, responder as seguintes perguntas:

  • Quem é o entrevistado? E o entrevistador?
  • Onde o texto foi publicado?
  • Qual o tema da entrevista?
  • A que público a entrevista se destina?
  • Qual o objetivo da entrevista?
  • Conseguimos identificar a opinião do entrevistado ou do entrevistador sobre o tema? Em quais trechos?

Consulte o plano de aula completo.

3. As características do gênero propaganda

  • Indicado para: estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental.
  • Objetivo: diferenciar propaganda e publicidade, por meio da identificação das características da primeira.
  • Habilidade da BNCC: EF69LP02
  • Materiais necessários: computador conectado à internet, projetor multimídia, imagens impressas de anúncios, recortes de anúncios de revistas e jornais, quadro.

Comece a aula com a seguinte pergunta: existe diferença entre propaganda e publicidade?

Depois de a turma compartilhar as respostas, separe-a em grupos e entregue para cada um deles um conjunto de imagens. Os estudantes devem definir quais imagens são uma propaganda e quais são publicidade.

Enquanto os grupos de organizam, separe o quadro em duas grandes colunas, uma com o título “propaganda” e outra, “publicidade”. Peça para os estudantes separarem nas colunas as imagens que consideram os melhores exemplos de cada categoria.

Por fim, converse com toda a turma sobre os resultados da atividade. A ideia é que eles consigam pontuar as características de cada gênero.

Consulte o plano de aula completo.

Como escolher uma faculdade EAD


💡Quer saber mais sobre educomunicação? Confira as fontes que consultamos para fazer este artigo:

Olívia Baldissera

Por Olívia Baldissera

Gostou deste conteúdo? Compartilhe com seus amigos!

                 
Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo do Blog do EAD.