Por que você deveria trabalhar educação midiática em sala de aula

Postado em 12 de dez de 2023
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Em 2016, o Dicionário Oxford escolheu o termo “pós-verdade” como a palavra de destaque do ano, o substantivo que resumiu aquele momento histórico.

Um dos critérios de escolha do termo na época foi o fato da frequência de uso da expressão ter aumentado 2000% em relação a 2015.  

Um ano depois, em 2017, o dicionário em inglês da editora britânica Collins elegeu, por sua vez, “fake news” como palavra do ano.  

De lá pra cá, “pós-verdade” e “fake news” tornaram-se irmãs siamesas no debate sobre desinformação. E na medida em que se colocaram luzes nessas questões, metodologias para contra-atacar surgiram, como, por exemplo, a educação midiática. 

Aqui você vai aprender mais sobre esse conjunto de habilidades que deve ser desenvolvido por crianças e adolescentes ao longo da Educação Básica, de acordo com as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 

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O que é educação midiática

Vivemos na Era da Informação, onde todos somos produtores e receptores de conteúdo, às vezes desenvolvendo ambos os papéis ao mesmo tempo. E nesse momento apenas ler o que chega em nós não é suficiente. 

É necessário identificar três pontos básicos: qual é a intenção, a autoria e o contexto das informações. E para isso temos que dominar as ferramentas e as linguagens que nos permitem participar dos ambientes onde as notícias e os conteúdos em geral circulam.  

E é muito conteúdo!

Dados da edição de 2020 do levantamento Data Never Sleeps, “Dados não dormem nunca” em tradução livre, da Domo, empresa especializada em computação na nuvem, mostram que a cada 24 horas:

  • 60 milhões de fotos são postadas na internet de modo geral.
  • 1,6 bilhões de curtidas são distribuídas.
  • 347 mil novos stories são postados no Instagram.
  • 147 mil fotos são publicadas no Facebook.
  • 41 milhões de mensagens são trocadas no WhatsApp.

Durante a pandemia, alguns cenários digitais se expandiram. A plataforma Zoom, por exemplo, durante o auge do isolamento social, chegou a reunir 208 mil pessoas por minuto.  

Há 25 anos, o físico espanhol Alfonso Conella já usava um termo para explicar a sensação causada pelo excesso de notícias: infoxicação, a aglutinação de informação e intoxicação. 

E o fato é que essa expressão antiga nunca esteve tão atual. Estamos todos imersos nesse sistema, mesmo que com níveis de envolvimento e simpatia diferentes pelo digital.  

Ninguém passa despercebido e o esquema tradicional que resumia a comunicação e a educação enquanto fenômenos verticais e unidirecionais entre emissor e receptor e professor e estudante já não serve mais, funcionamos em rede!

Uma rede onde todos curtem e são curtidos, consomem e geram conteúdo, são palco e plateia. Uma rede conectada e difusa.  

Essa nova formatação traz desafios: com o excesso de mensagens e informações, como podemos diferenciar fatos de opiniões? Com a rapidez da internet conseguimos interpretar que toda notícia tem uma intenção, uma autoria e é feita em determinado contexto?  

Olhando para esse fenômeno surge a educação midiática, um letramento sobre consumo midiático onde se aprende a aprender. 

Segundo a Educamídia, um programa do Instituto Palavra Aberta criado para capacitar professores e engajar a sociedade no processo de educação midiática dos jovens, trata-se da “habilidade de ler criticamente e participar de forma ativa do mundo conectado em que vivemos”.

É, portanto, sobre desenvolver a capacidade de consumir criticamente os conteúdos pelos quais se é bombardeado diariamente, independente do formato (vídeos, textos, fotos…) e entender:  

  • O processo produtivo envolvido ali;
  • O contexto daquela mensagem;
  • Quem escreve e porque escreve-se aquilo.

E como se chega nesse nível crítico de letramento midiático? A partir do desenvolvimento de habilidades, previstas inclusive na BNCC, em sala de aula.

A educação midiática e a BNCC

O Instituto Palavra Aberta reforça que a educação midiática está prevista na BNCC, a partir de competências gerais ou em habilidades específicas. 

Entende-se, portanto, que é possível relacionar o que está previsto nesse documento balizador da educação brasileira com os objetivos da educação midiática. Alguns exemplos:

  • A competência sobre cultura digital da BNCC prevê que o estudante “seja capaz de compreender, utilizar e criar tecnologias de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais”.
  • No Campo Jornalístico-Midiático da Base para o Ensino Fundamental 2, a análise e produção de notícias, as reflexões sobre o papel da publicidade e o entendimento sobre o ambiente da desinformação são habilidades contempladas.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) enfatiza que a educação midiática aprimora a capacidade das pessoas de exercerem os seus direitos humanos fundamentais. Os exemplos acima são apenas duas opções possíveis de aliar a educação midiática aos objetivos da BNCC. E os benefícios são vários!

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Os benefícios da educação midiática

  • Maior engajamento dos estudantes: a tecnologia geralmente é algo familiar aos estudantes, embora seja vista muitas vezes enquanto um item dispersivo e não pedagógico. Um inimigo da concentração e dos professores. Mas pela perspectiva da educação midiática ela serve como meio para se explorar as possibilidades e aprender mais, uma forma de engajar!
  • Promove a participação ativa na sociedade: a partir desse engajamento os estudantes aprendem formas saudáveis de integrar os ambientes digitais, desenvolvendo a empatia e se colocando no mundo (digital e físico) de uma forma cidadã.
  • Fortalece o estudo fora de sala de aula: a educação midiática transpassa os muros das escolas. Os estudantes colocam em prática, no cotidiano, o que é aprendido e exploram outras possibilidades de pesquisa e geração de conteúdo, como por exemplo smartphones, notebooks, tablets, entre outros recursos, apresentando mais interesse nos estudos.
  • Estudantes viram produtores: uma das bases da educação midiática é entender que todos somos consumidores e produtores de conteúdo. Logo, os estudantes passam a entender de que modo a mídia pode ser utilizada para suas necessidades, entendendo como os conteúdos são produzidos e o que está por trás de cada elemento. Saiba mais sobre a Cultura Maker.
 

Como trabalhar a educação midiática em sala de aula

1. Invista em tecnologia

O acesso democrático à internet e à tecnologia ainda é um desafio no nosso país. Com base nos dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 40 milhões de pessoas que não usam internet.  

Ao se trabalhar com educação midiática em sala de aula, é importante considerar as realidades dos estudantes (como e onde acessam a internet, como e onde acessam notícias, etc…) e avaliar quais ferramentas de ensino e aprendizagem estão disponíveis e o que é necessário adquirir para promover a educação midiática naquele contexto.  

Do que se precisa geralmente? Computadores, sistemas de ensino, câmeras, tablets e celulares. É preciso avaliar como cada recurso será utilizado, dando prioridade ao que for mais relevante.

2. Capacite os professores

As tecnologias e os conceitos precisam ser dominados por aqueles que representam a ponta final e principal dos processos: os professores. Sem eles o método não é posto em prática.  

Ou seja, além de equipamentos os educadores precisam estar bem treinados para que tudo funcione na prática. É importante, por exemplo, explicar como a tecnologia deve ser inserida no dia a dia da sala de aula.

3. Desenvolva novas mentalidades para o processo de aprendizagem

É necessário aliar uma remodelação da mentalidade do processo de aprendizagem às novas tecnologias e capacitação dos profissionais.  

A relação entre docente e educando não é mais vertical. os professores não possuem (nem precisam possuir) todas as respostas.   

A educação midiática prevê uma metodologia ativa em que existe um protagonismo do estudante e uma troca mais horizontal entre todos os envolvidos no processo de aprendizagem. Os professores são vistos mais como facilitadores e guias e o conhecimento é produzido em conjunto. 

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Perguntas para colocar em prática o processo de educação midiática

Algumas perguntas são bons gatilhos para se pensar em educação midiática em sala de aula e propor debates entre estudantes e professores.

Confira algumas sugestões:

  • O quanto devemos confiar naquilo que lemos na internet?
  • Qual é o caminho do jornalismo quando opiniões e fatos se misturam na disputa pela atenção da audiência?
  • Quem escreveu esse texto ou criou essa mensagem?
  • Essa pessoa realmente existe ou é um perfil falso?
  • Qual o propósito desta publicação?
  • Esse conteúdo de saúde tem embasamento científico? Qual é o artigo? Quem realizou o estudo? Ou será que a informação está errada?

E para aplicar essas perguntas-gatilhos você pode propor para sua turma algumas atividades práticas:

1. Pesquisa nas redes sociais

Escolha um tema e peça aos estudantes que pesquisem sobre ele nas suas próprias redes sociais. Eles podem anotar aquilo que encontram ou mandar um print para os professores. 

O professor, por sua vez, seleciona alguns dos temas para mostrar o que cada mensagem tem que pode fazer com que os estudantes desconfiem dessa informação.  

Esse é o tipo de atividade que pode ser desenvolvida tanto em aulas presenciais, quanto em aulas remotas ou no sistema híbrido.

2. Avaliação de sites

Pode-se avaliar sites a partir de alguns critérios jornalísticos e de SEO:

  • O texto é assinado?
  • Se o texto é assinado, a pessoa existe?
  • O site aparece em buscadores como o Google Notícias?  

Cabe ao professor, nessa atividade, ensinar ao estudante como buscar essas informações e o que pesquisar. Isso pode ser feito usando textos de sites e blogs menos populares, por exemplo.  

É com um trabalho assim, contínuo, que se forma cidadãos com pensamento crítico e preparados. Entre os principais benefícios da disseminação da educação midiática no ambiente escolar está, sem dúvida, o fortalecimento de conhecimentos cruciais sobre as funções das mídias e dos canais de informação nas sociedades democráticas e o uso saudável e consciente dessas plataformas.

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