Como ensinar matemática para os estudantes aprenderem de verdade

Postado em 14 de set de 2023
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“Não gosto”, “não entendo”, “isso é inútil”.

Quem é professor de matemática já ouviu (e muito) essas frases dos estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Parte das queixas é herdeira de um modelo escolar convencional, pautado em um modelo conteudista, na passividade da criança e no conhecimento absoluto do professor.

Hoje já se sabe que é necessário deixar o lápis tabuada de lado e adotar outros métodos de ensino que promovam o aprendizado e ainda despertam a paixão pelos números. Aqui você conhecerá 4 métodos de como ensinar matemática, dos mais tradicionais aos mais disruptivos.

Lembrando que não existe um único método correto. Como professor, você tem a liberdade de mesclar diferentes técnicas e atividades a partir de sua experiência em sala de aula.

Antes de abordar como ensinar matemática de uma forma geral, é preciso refletir sobre as diferenças de cada nível educacional, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Homologada em 2018, a BNCC define um conjunto de aprendizagens essenciais que todos os estudantes brasileiros devem desenvolver ao longo da Educação Básica.

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Como ensinar matemática na Educação Infantil

A Educação Matemática deve começar logo na primeira infância. Aqui não estamos falando de cálculos de adição ou subtração e, sim, de habilidades relacionadas à quantificação, números e espacialidade. Todas elas devem começar a ser desenvolvidas ao longo do segundo ano de vida da criança, segundo a BNCC.

A BNCC estabelece que as escolas de Educação Infantil devem promover experiências que permitam as crianças a fazerem observações, manipularem objetos e consultarem fontes de informação, tudo isso de forma lúdica e interativa.

O ensino da matemática se daria nessas atividades, pois a BNCC não define conteúdos e disciplinas específicas para a primeira infância. O documento define cinco campos de experiência para a Educação Infantil:

  • O eu, o outro e nós;
  • Corpo, gestos e movimentos;
  • Traços, sons, cores e formas;
  • Escuta, fala, pensamento e imaginação;
  • Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.

Todos abrangem o desenvolvimento de habilidades matemáticas, em maior ou menor grau. A partir destes campos de experiência, o ensino de matemática na educação infantil deve se concentrar nos conhecimentos abaixo:

  • Contagem;
  • Ordenação;
  • Relações entre quantidades;
  • Dimensões;
  • Medidas;
  • Comparação de pesos e de comprimentos;
  • Avaliação de distâncias;
  • Reconhecimento de formas geométricas;
  • Conhecimento e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais.

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E a matemática no Ensino Fundamental e Médio?

Se na Educação Infantil a BNCC incentiva a experiências, nos níveis Fundamental e Médio o documento já traz conteúdos específicos. O "como ensinar matemática" é de responsabilidade do professor, mas ele precisa abordar 5 unidades temáticas que devem ser ensinadas entre o 1º e 5º anos do Ensino Fundamental:

  1. Números
  2. Álgebra
  3. Geometria
  4. Grandezas e medidas
  5. Probabilidade e estatística

Nos anos finais do Ensino Fundamental também devem ser abordadas as mesmas unidades temáticas, além de fazer uma introdução à argumentação matemática. Os estudantes devem desenvolver um senso crítico e saber interpretar os textos matemáticos.

No Ensino Médio, o objetivo é construir uma visão integrada da matemática, aplicada à vida real e em diferentes contextos. O conhecimento matemático deve ajudar os estudantes a desenvolverem habilidades de investigação, construção de modelos e resolução de problemas.

Segundo a BNCC, o estudante de Ensino Médio precisa desenvolver 5 competências específicas a partir do ensino da matemática:

  1. Usar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações do cotidiano e fatos de outras áreas do conhecimento;
  2. Mobilizar e articular conceitos e procedimentos matemáticos para propor soluções a desafios do mundo contemporâneo, além de tomar decisões éticas e socialmente responsáveis;
  3. Usar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para solucionar problemas em diferentes contextos, a partir de uma argumentação matemática consistente;
  4. Compreender e usar diversos registros de representação matemática para resolver e comunicar a solução de problemas;
  5. Investigar e estabelecer conjecturas sobre diferentes conceitos e propriedades matemáticas, por meio de observação de padrões, experimentações e novas tecnologias.

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O que diz a BNCC sobre o ensino da matemática

A BNCC define a matemática como área do conhecimento e disciplina ao mesmo tempo. Ou seja, além de dominar conceitos, fórmulas e cálculos, o estudante deve adquirir habilidades e competências relacionadas ao pensamento matemático ao longo da trajetória escolar.

A BNCC estabelece que, já na Educação Infantil, a criança deve iniciar o letramento matemático. O termo se refere às competências de raciocinar, representar, comunicar e argumentar matematicamente, de forma a solucionar problemas em diferentes contextos e ainda relacionar o conhecimento matemático com a vida fora da sala de aula.

 

4 métodos de ensino de matemática que todo professor precisa conhecer

Agora que já revisamos o quê, hora de ver o como ensinar matemática. Os 4 métodos abaixo diferem do modelo tradicional, baseado em repetição e memorização a partir da fala do professor, o único detentor do conhecimento. Em uma aula, você pode mesclar as ideias de cada um deles com atividades de esforço produtivo do estudante, ou seja, exercícios e provas.

1. Metodologias ativas

Existem várias metodologias ativas que podem ser empregadas no ensino de matemática, como:

  • Sala de aula invertida: o estudante internaliza conceitos essenciais antes da aula para, em sala, discutir os conhecimentos adquiridos com os colegas e o professor.
  • Aprendizagem baseada em problemas: é uma atividade guiada, realizada em grupos. Os estudantes precisam relacionar o conteúdo visto em sala de aula com problemas da vida real e pensar em soluções.
  • Gamificação: transposição da lógica dos jogos para a sala de aula.

Todas elas fazem com que o estudante aprenda de forma autônoma e participativa um conteúdo.

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2. Método Singapura

O Método Singapura tem conquistado cada vez mais adeptos devido aos bons resultados dos estudantes do país asiático nos testes do Programme for International Student Assessment (Pisa) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O ensino da matemática se dá pela abordagem "concreto, pictórico e abstrato", resumida na sigla CPA. Ela se caracteriza pela representação progressiva do conhecimento, partindo da manipulação de objetos concretos para explorar um conceito específico. Em seguida, esse conceito é representado por meio de imagens e esquemas, para, por fim, ser representado em linguagem matemática.

Um exemplo clássico da abordagem é o uso das maçãs. A fruta é apresentada como algo concreto, para depois ser cortada ao meio. Um desenho esquemático de círculo dividido pela metade por uma linha pode ser usado para representar uma fração no meio pictórico. E, ao final, os estudantes são apresentados ao meio abstrato, a fração 1/2.

Deu para perceber que é uma abordagem bastante visual, não é? O Método Singapura propõe que os estudantes não apenas decorem a linguagem matemática, mas entendam o que ela de fato significa.

3. Método por Resolução de Problemas

É a forma de ensinar matemática mais tradicional listada aqui. Como o nome já diz, o método consiste na resolução de questões matemáticas para que o estudante pratique conceitos e fórmulas. É bastante individualizado e repetitivo.

4. Método das Mentalidades Matemáticas

Desenvolvido pela pesquisadora de Stanford, Jo Boaler, o método das mentalidades matemáticas defende que todo indivíduo é um ser matemático. Ele se baseia na neurociência para adotar recursos visuais no ensino, além de abandonar questões curtas e fechadas.

O método deixa de lado a memorização para estimular a flexibilidade cognitiva e o raciocínio. Na prática, a abordagem propõe aos estudantes atividades desafiadoras que promovem a aprendizagem. Professores em busca de soluções de como ensinar matemática acham jogos, artigos e aulas no site YouCubed, desenvolvido pela própria Jo Boaler.

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Como ser um professor de matemática melhor

Depois de ler tudo isso, deu para perceber que muito do ensino da matemática depende da orientação do professor, né?

Afinal, é ele quem definirá o método de ensino, estruturará as atividades e guiará os estudantes no processo de aprendizado. Imagino que você deve se perguntar como se tornar um professor de matemática melhor para suas turmas.

O estudo "Boas Práticas Docentes no Ensino da Matemática", realizado pela Fundação Victor Civita em 2012, continua atual e oferece algumas dicas de como melhorar a atuação do professor em sala de aula. As principais lições do estudo são:

  1. Tenha um conhecimento aprofundado do conteúdo: não basta saber apenas o que será dito em sala de aula. Deixar a superficialidade de lado envolve formação constante, em cursos rápidos, especializações e troca de experiências com colegas.
  2. Clareza ao expor o conteúdo: é preciso saber se comunicar com os estudantes. Mantenha um tom de voz tranquilo e contato visual. Se usar o quadro-negro ou slides, evite textos longos.
  3. Planeje as aulas do começo ao fim: é no planejamento que você irá prever quais conhecimentos matemáticos abordar e como. Observe o desempenho da turma e faça os ajustes no planejamento de acordo com o feedback dos estudantes.
  4. Contextualize o conteúdo: é importante que os estudantes entendam que a matemática está presente na vida deles fora da escola. Use exemplos do cotidiano e aposte nos jogos que fazem parte da vida do estudante, como Minecraft e Roblox, para motivá-lo.
  5. Respeite a individualidade de cada estudante: cada criança tem um tempo de aprendizagem próprio. É preciso respeitar o ritmo de cada um para pensar, ensaiar, errar e comparar as conclusões com a dos colegas.
  6. Use os erros a favor da aprendizagem: sempre peça ao estudante explicar qual lógica ele usou para chegar a determinado resultado, mesmo que não seja o correto. Explique o motivo do erro e permita que o aluno formule hipóteses e chegue por conta própria à resposta correta.
  7. Estimule o uso de estimativas: as estimativas são uma forma de mostrar aos alunos que a matemática não se restringe às contas no papel. Elas trabalham com aproximação, raciocínio e elaboração de argumentos matemáticos.
  8. Use recursos visuais e tecnológicos: lembra da abordagem das Mentalidades Matemáticas? O material multimídia auxilia na compreensão do conteúdo, enquanto os jogos digitais são um estímulo a mais para percorrer a trilha de aprendizagem.
  9. Relacione procedimentos matemáticos: sempre mostre o elo entre o conhecimento adquirido e o que será ensinado em sala de aula. Proponha desafios em que os estudantes devem analisar se um procedimento matemático é correto.
  10. Interaja com a turma: a postura do professor sabe-tudo deve ser abandonada. Ouça os estudantes e considere o conhecimento que eles têm ao planejar as aulas.
  11. Promova a interação entre os estudantes: um dos pilares das metodologias ativas. É importante que os estudantes conversem entre si, troquem ideias e pratiquem a argumentação.
  12. Dê lição de casa (e a corrija): apesar de causar ojeriza entre os estudantes, a lição de casa é importante para o estudante aprender a estudar sozinho. É neste momento que ele desenvolverá estratégias para solucionar problemas de forma autônoma, sem o apoio do professor e dos colegas. Depois, a correção poderá ser feita de forma individual ou em um debate coletivo, a partir da seleção de alguns trabalhos da turma.

Além dessas boas práticas, é essencial que professoras e professores se mantenham atualizados por meio da formação continuada.

Para quem é formado em Pedagogia ou em uma licenciatura que não seja em Matemática, mas que por algum motivo dá aulas da disciplina, duas boas opções são a segunda licenciatura e a pós-graduação. Ambas podem ser feitas na modalidade EAD, com aulas 100% online, o que facilita conciliar o trabalho com os estudos.

Olívia Baldissera

Por Olívia Baldissera

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Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo do Blog do EAD.