A importância da arte na Educação Infantil

Postado em 16 de nov de 2023
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O poder da arte na Educação Infantil no processo de ensino e aprendizagem é aceito entre educadores, além de estar previsto na Base Nacional Curricular Comum (BNCC).

Mas como fugir do papel sulfite e do giz de cera?

É comum associarmos a ideia de “arte” apenas à representação gráfica, o que torna ainda mais desafiador pensar em diferentes formas de trabalhar as expressões artísticas em sala.

Aqui você vai encontrar algumas ideias de atividades para fazer com bebês e crianças. Também vai conhecer mais detalhes dos benefícios da arte na Educação Infantil, reconhecidos em documentos fundamentais do sistema educacional brasileiro.

Confira:

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Os benefícios da arte para as crianças

Estudos na área da Neurociência, Pedagogia e Psicologia comprovam a importância das artes para o desenvolvimento da criança.

Explicamos abaixo alguns dos benefícios principais. Lembrando que, quando falamos em artes, estamos nos referindo ao desenho, à pintura, à música, à dança, à dança e demais expressões artísticas.

1. Contribui para o desenvolvimento motor e cognitivo

O desenvolvimento cognitivo é o processo de ampliação da capacidade de um ser humano de processar informações, o que envolve a aquisição de recursos conceituais, habilidades perceptivas, aprimoramento da linguagem e demais aspectos relacionados ao amadurecimento do cérebro.

A Educação Infantil engloba os estágios sensório-motor e pré-operatório na perspectiva piagetiana:

  • Estágio sensório-motor: bebês de até 2 anos de idade manifestam sua inteligência por meio da manipulação e percepção de objetos concretos. Neste estágio que há um aumento na capacidade sensorial e motora;
  • Estágio pré-operatório: crianças com idade entre 2 e 7 anos experimentam a linguagem e os objetos de forma ativa e intencional. Começam a desenvolver um pensamento representativo, fundamental para aprimorar o pensamento lógico.

As artes gráficas, como pintura e desenho, ajudam no desenvolvimento da motricidade fina, como segurar os objetos com a mão em forma de pinça. Já a dança e o teatro ajudam a coordenar o corpo no espaço.

Do ponto de vista da neurociência, a música estimula áreas do cérebro que contribuem para a aprendizagem.

2. Ajuda na alfabetização

De acordo com a BNCC, a alfabetização é um conjunto de habilidades de codificação e decodificação. Isso envolve compreender e dominar as diferentes formas de escrita, como a letra cursiva e a letra de forma. Conhecer o alfabeto também é essencial.

A arte na Educação Infantil auxilia nesse processo ao estimular a percepção visual das crianças, facilitando a diferenciação de letras e palavras.

Imagine, por exemplo, as palavras “lata” e “bola”. É comum os pequenos confundirem as duas por terem uma configuração parecida, de duas letras altas intercaladas por letras baixa. O trabalho com desenho e pintura facilita reconhecer as diferenças entre as letras, como o risco na parte superior da letra T ou o círculo na parte inferior do B.

Em estágios mais avançados de alfabetização, as artes visuais ajudam no desenvolvimento da capacidade de relacionar textos com diferentes temas.

3. Auxilia na interpretação do mundo ao redor

Todo bebê se depara com símbolos e significados pré-existentes que devem ser interpretados para que ele consiga se desenvolver em sua plenitude.

Ao entrar em contato com a realidade, a criança adquire um repertório sensorial de formas, cores, texturas, sabores, gestos e sons. Os significados que ela dá para esses elementos influenciam suas formas de linguagens e de comunicação, que serão mobilizadas na socialização com os colegas e adultos.

Vamos usar como exemplo um objeto da natureza, como as flores. Elas têm nomes, formatos, cores, linhas, tamanhos e texturas diferentes. A criança deve ser capaz de perceber esses atributos constitutivos das flores e diferenciá-los.

A arte na Educação Infantil entra em cena para criar experiências que norteiem esse processo. Projetos de desenho ou escultura orientados pelo professor ajudam as crianças a identificarem características essenciais dos objetos e a entenderem por que eles são diferentes entre si.

Esse processo de interpretação da realidade é essencial para o próximo benefício da lista.

4. Estimula comunicação e expressividade

A expressividade é indispensável para aprender formas de ser e de estar no mundo. Ela é trabalhada pela criança simultaneamente ao desenvolvimento afetivo, perceptivo e intelectual.

Sons e movimentos são as principais formas de expressão dos estudantes na Educação Infantil. No estágio pré-operatório, os pequenos começam a usar palavras para se expressar e a música se torna uma grande aliada no aprimoramento das capacidades linguísticas.

É possível recorrer à dança e ao teatro para mostrar outras formas de expressão e comunicação para as crianças.

5. Desenvolve a autonomia, a autoestima e o pensamento crítico

A expressividade infantil por meio das artes é uma maneira da criança se autoconhecer, identificando emoções e sentimentos. Sua autoestima é trabalhada ao ver o resultado das atividades exposto em sala, como é sugerido na abordagem Reggio Emilia.

Ela também constrói um pensamento crítico a partir das atividades artísticas que estimulam a interpretação do mundo. Reconhecer o que torna os objetos do mundo sensível diferentes entre si é o primeiro passo para se perguntar o porquê das coisas, além de fazer escolhas.

A autonomia vem da liberdade que o professor dá para a criança se expressar por meio das artes. Por isso é preciso tomar cuidado para não impor um padrão estético para turma, como exigir uma maior verossimilhança de desenhos com a realidade. Ela deve ser livre para criar e usar os materiais que considerar mais interessantes.

 

A arte no currículo da Educação Infantil

A arte na Educação Infantil está formalmente prevista nos currículos da rede pública e privada de ensino do Brasil desde 1998, quando foi publicado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI).

O documento reuniu orientações e parâmetros de qualidade para serem utilizados pelos professores em um período de transição, em que creches e pré-escolas foram incorporadas à Educação Básica.

As artes foram detalhadas no volume 3 do RCNEI, que apresentou eixos de trabalho para a construção de diferentes linguagens e o estabelecimento de relações com objetos. Entre eles estão:

  1. Movimento
  2. Música
  3. Artes Visuais

Ao falar de movimento, o RCNEI aborda a dança como uma linguagem que faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões intencionais. De acordo com o referencial:

Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo.

Já a música é uma linguagem e uma forma de conhecimento acessível, sendo apresentada como um meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e do autoconhecimento:

Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos, etc., são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados.

Por fim, as artes visuais são consideradas uma forma de expressão e comunicação:

As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc. O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são atributos da criação artística. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo às Artes Visuais.

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A arte na Educação Infantil na BNCC

A BNCC trouxe atualizações para o RCNEI e para o contato com as artes na Educação Infantil com o campo de experiência “Traços, sons, cores e formas”.

Os campos de experiência são um arranjo curricular que aborda as situações e experiências concretas do dia a dia da criança, relacionando-as aos demais conhecimentos. O que está diretamente ligado às artes é o terceiro:

Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas.

Esse campo de experiência da BNCC tem 9 objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, que são um conjunto de comportamentos, habilidades, conhecimentos e vivências que propiciam o desenvolvimento pleno da criança. Eles têm como eixos estruturantes as interações e brincadeiras.

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Os objetivos são divididos por faixa etária. Conheça cada um deles:

Bebês (zero a 4 ano e 6 meses de idade)

  • EI01TS01: Explorar sons produzidos com o próprio corpo e com objetos do ambiente.
  • EI01TS02: Traçar marcas gráficas, em diferentes suportes, usando instrumentos riscantes e tintas.
  • EI01TS03: Explorar diferentes fontes sonoras e materiais para acompanhar brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias.

Crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses de idade

  • EI02TS01: Criar sons com materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música.
  • EI02TS02: Utilizar materiais variados com possibilidades de manipulação (argila, massa de modelar), explorando cores, texturas, superfícies, planos, formas e volumes ao criar objetos tridimensionais.
  • EI02TS03: Utilizar diferentes fontes sonoras disponíveis no ambiente em brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias.

Crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses de idade

  • EI03TS01: Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas.
  • EI03TS02: Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais.
  • EI03TS03: Reconhecer as qualidades do som (intensidade, duração, altura e timbre), utilizando-as em suas produções sonoras e ao ouvir músicas e sons.

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Atividades artísticas para levar para sala de aula

Vendo os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da BNCC fica mais fácil de planejar atividades de arte na Educação Infantil, não é mesmo?

Antes de começar a incluí-las no seu plano de aula, é preciso ter em mente que você deve atuar como um guia na experiência artística. O professor deve observar e acolher as crianças durante a realização das atividades, sem limitá-las em parâmetros do que é “bonito” ou “feio”, “certo” ou “errado” no que concerne à expressão artística.

Para isso, o professor também precisa cultivar seu próprio repertório de experiências artísticas, mantendo contato com as diversas possibilidades de arte – e não apenas a visualidade, mais comum nas práticas pedagógicas do dia a dia.

Um caminho é a formação continuada, como os cursos livres e de pós-graduação. É com o conhecimento e o diálogo com profissionais referência em educação que você vai conseguir inovar no seu dia a dia.

Separamos 5 ideias de atividades de arte para a Educação Infantil para você se inspirar. Elas são uma adaptação das experiências compartilhadas por educadores para o Nova Escola.

1. Monte uma banda de música

  • Indicado para bebês de até 1 ano e 6 meses de idade

Sentados em roda, os bebês devem segurar instrumentos musicais e cantar uma música conhecida pela turma. Eles devem ser estimulados a usar o instrumento cada vez que ouvem o próprio nome. Assim eles entendem que chegou a sua vez de tocar e a vez dos colegas. Escolha uma palavra ou expressão que indique os momentos em que todos devem tocar juntos.

Para essa faixa etária, os instrumentos indicados são pandeiros, chocalhos, sinos e tambores. Eles permitem que a criança explore som, formas, cores e texturas.

2. Crie um parque sonoro

  • Indicado para crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses de idade

Com os materiais disponíveis na escola, monte um parque sonoro para as crianças explorarem a variedade de sons e formas dos objetos.

Instrumentos musicais são bem-vindos, mas você pode usar também tampas de panelas, canecas de plástico, galões de água, potes plásticos, colheres e conchas de diferentes tamanhos.

3. Organize uma dança com panos

  • Indicado para crianças de 1 ano e 7 meses a 5 anos e 11 meses

Separe um pedaço de tecido para cada criança da turma. Eles devem ser feitos de diferentes materiais e terem diferentes formatos.

Escolha uma música animada para as crianças dançarem de acordo com o ritmo. Incentive-as a explorarem o movimento do tecido, segurando-o com uma das mãos. A ideia é que elas desenvolvam a autopercepção do corpo e criem seus próprios passos.

4. Incentive a turma a fazer a própria tinta com pigmentos naturais

  • Indicado para crianças de 4 a 5 anos e 11 meses de idade

Alimentos como café, açafrão, urucum, beterraba, cenoura e espinafre são ótimos para fazer tintas naturais. Eles devem ser triturados e misturados com água ou cola.

A atividade permite que as crianças descubram novas cores e texturas, além de fazer pinturas incríveis.

5. Proponha uma brincadeira sensorial

  • Indicado para crianças de 4 a 5 anos e 11 meses de idade

Peça para cada uma das crianças para colocar um pouco de arroz, água e anilina dentro de um saco plástico transparente, que deve ser fechado em seguida.

Depois, sugira para a turma passar a mão sobre o plástico, com delicadeza, para misturar a anilina ao arroz. A experiência tátil pode dar lugar a um trabalho de colagem, depois do arroz secar.

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Olívia Baldissera

Por Olívia Baldissera

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Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo do Blog do EAD.