Como deve ser a alfabetização segundo a BNCC

Postado em 20 de nov de 2023
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A Base defende que a ação pedagógica nos dois primeiros anos do ensino fundamental deve se concentrar na alfabetização. Saiba mais sobre esta e outras orientações da BNCC.

Desde 2019, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) está em vigor para a educação infantil e fundamental. Escolas e professores de todo o país adaptaram os currículos para seguir as orientações da BNCC, mas ainda surgem dúvidas sobre o que deve ser ensinado às crianças nos primeiros anos escolares.

Um dos pontos que mais geram questões é a alfabetização, que abordaremos nos próximos parágrafos. Antes, é preciso entender o que é a BNCC e como ela funciona.

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O que é a BNCC

A BNCC é um documento normativo que lista o que todos os estudantes devem aprender na educação básica. Ele não determina as metodologias de ensino nem práticas pedagógicas, mas, sim, os conteúdos que devem ser abordados em cada ano da educação infantil e do ensino fundamental e médio.

A Base funciona como um guia para escolas elaborarem currículos e para professores montarem planos de aula. Ela deve ser seguida por instituições de ensino da rede pública e privada, que devem garantir os direitos de aprendizagem de toda criança e adolescente. As entidades responsáveis pela fiscalização da implementação são os conselhos estaduais e municipais de educação. A União se concentra em programas de formação de professores e adequação dos materiais didáticos ao documento.

Homologada em 2017, o objetivo da BNCC é diminuir as desigualdades no aprendizado, ao definir os conhecimentos, habilidades e competências essenciais para toda a educação básica.

Para saber mais, nós preparamos para você um resumo completo sobre os principais pontos da BNCC.

O que mudou no processo de alfabetização com a BNCC

A principal mudança que a BNCC trouxe foi no prazo-limite da alfabetização. Antes, ela deveria acontecer até o 3º ano do ensino fundamental, de acordo com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). Em 2019 houve uma antecipação e o limite passou para o 2º ano.

Além disso, a BNCC entende a alfabetização como um processo que permite a criança codificar e decodificar os sons da língua em material gráfico, ou seja, nas letras. Para isso, ela precisa conhecer o alfabeto, ter consciência fonológica e desenvolver a mecânica de escrita e leitura.

Assim, a Base enfoca nas relações entre fala e escrita. Ela coloca a apropriação do sistema alfabético da escrita como foco principal da ação pedagógica nos primeiros anos do ensino fundamental.

Outra mudança da BNCC em relação à alfabetização é a adoção de uma perspectiva enunciativo-discursiva de linguagem. A linguagem é considerada uma atividade humana e integra um processo de interação entre pessoas, tendo sempre um objetivo e uma intenção.

Na prática, a Base coloca o texto no centro da unidade de trabalho. O documento orienta que os estudantes trabalhem com textos reais, que façam parte do dia a dia da criança.

A centralidade do texto é aliada a atividades que estimulem a reflexão sobre a escrita alfabética. As crianças devem explorar a relação entre sons e letras, investigar com quantas e quais letras se escreve uma palavra, testar diferentes organizações de sílabas...

Por fim, a alfabetização na BNCC incorpora o multiletramento. A Base orienta que as crianças aprendam as especificidades de leitura e de escrita nos ambientes digitais, sem abandonar o ensino de gêneros clássicos de textos, como o conto e a crônica.

Durante o processo de alfabetização, o estudante deve ter contato com textos multimidiáticos. Em outras palavras, além dos textos escritos, a BNCC orienta que a criança trabalhe com:

  • Imagens estáticas: fotos, pinturas, ilustrações, infográficos e desenhos;
  • Imagens em movimento: vídeos, filmes, desenhos animados;
  • Som: áudios e músicas

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O que a BNCC diz sobre a alfabetização

Durante o processo de alfabetização, a BNCC afirma que a criança deve desenvolver as seguintes habilidades de codificação e decodificação:

  • Compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas;
  • Dominar as convenções gráficas, como letras maiúsculas e minúsculas, letra cursiva e letra forma;
  • Conhecer o alfabeto;
  • Compreender a natureza alfabética do sistema de escrita da Língua Portuguesa;
  • Entender as relações entre grafemas e fonemas;
  • Saber decodificar palavras e textos escritos;
  • Saber ler, reconhecendo globalmente as palavras;
  • Ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto que meras palavras, desenvolvendo assim fluência e rapidez de leitura.

Para desenvolver essas habilidades, a alfabetização na BNCC é trabalhada a partir das seguintes orientações:

Limite de idade para alfabetização na BNCC

Como escrevemos antes, o prazo-limite para a alfabetização na BNCC foi antecipado para o 2º ano do ensino fundamental. Mas isso não significa que o processo está terminado. Ele continua no 3º ano, com um foco maior na ortografia.

Para que esse limite seja respeitado, escolas devem articular os currículos da educação infantil com os dos anos iniciais do ensino fundamental, pois a criança já tem as primeiras experiências de leitura e escrita assim que começa a vida escolar.

Os 4 campos de atuação da BNCC relacionados à alfabetização

Os campos de atuação são as áreas de uso da linguagem no dia a dia e estão previstos nas propostas para o ensino de Língua Portuguesa da BNCC. Eles contribuem com a alfabetização ao estimular que o estudante tenha contato com os mais diferentes tipos de texto.

O uso dos campos de atuação na alfabetização, segundo a BNCC, é uma forma de evitar exercícios de repetição e textos que não existam fora de sala de aula. O professor tem liberdade para escolher os gêneros e os textos, mas a orientação é que os materiais escolhidos ofereçam uma experiência diversificada entre os campos. É importante também que os textos mostrem a diversidade cultural e linguística que existe no Brasil e em outros países.

Os campos de atuação são:

1. Vida cotidiana

As crianças experimentam situações de leitura e escrita que são comuns no ambiente doméstico e escolar. Nos anos iniciais do ensino fundamental, os gêneros são mais simples. O professor pode usar lista de compras, receitas, bilhetes, convites de aniversário, regras de jogos...

2. Artístico-literário

As crianças têm contato com situações de leitura, fruição e produção de textos como contos, poemas, quadrinhos e fábulas.

3. Estudo e pesquisa

O estudante conhece textos expositivos e argumentativos, relacionados ao conhecimento e divulgação científica. O professor pode usar enunciados de tarefas escolares, entrevistas, verbetes de enciclopédia e infográficos como exemplos.

4. Vida pública

As crianças têm contato com textos jornalísticos, publicitários e reivindicatórios, relacionados a temas como cidadania e exercício de direitos. Alguns exemplos são manchetes, notas de jornal, slogans, regras e regulamentos, comentários em sites e folhetos.

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As 4 práticas de linguagem da BNCC

Ainda relacionadas às propostas de Língua Portuguesa, as práticas de linguagem previstas na BNCC são essenciais para o processo de alfabetização. A Base divide-as em quatro categorias:

1. Leitura/escuta

A prática tem como objetivo ampliar o letramento da criança, com a ajuda de diferentes textos. O estudante deve incorporar estratégias de leitura compartilhada e autônoma, seja de palavras escritas, imagens ou sons, que circulam em meios analógicos e digitais.

2. Escrita

A criança deve desenvolver a capacidade de produzir textos de diferentes gêneros, entendendo a função da escrita para o cotidiano. O professor deve demonstrar que todo texto, independentemente da mídia, deve responder a quatro perguntas:

  1. Quem escreve?
  2. Qual o objetivo?
  3. Quem vai ler este texto?
  4. Onde o texto será publicação?

3. Oralidade

A alfabetização na BNCC depende da aprendizagem de estratégias de fala e escuta, que são assimiladas com o uso e com a interação com o outro. Em sala de aula, o professor deve estimular as crianças a escutar, prestar atenção e comentar o que os colegas falaram.

4. Análise linguística/semiótica

A última prática de linguagem está relacionada diretamente com a sistematização da alfabetização, ao propor reflexões sobre o sistema de escrita e o funcionamento da língua.

É bastante coisa para prestar atenção, não é mesmo? Por trazer tantas mudanças, a BNCC já conta com disciplinas exclusivas em cursos de pós-graduação em educação.

 

O processo de alfabetização em cada etapa de ensino, segundo a BNCC

Na educação infantil, o processo de alfabetização, segundo a BNCC, deve estimular a criança a falar e ouvir, por meio de atividades lúdicas. Em relação à escrita, a Base orienta que:

  1. A curiosidade sobre os textos escritos deve ser estimulada na criança, que construirá uma concepção de língua escrita;
  2. Após a iniciação da cultura escrita, o estudante deve adquirir familiaridade com os textos. O gosto pela leitura e as hipóteses com a escrita são desenvolvidos aos poucos.
  3. Ao final, a criança deve ser capaz de associar a escrita como uma forma de representar a fala.

É nos primeiros anos do ensino fundamental que a criança vai aprofundar seus conhecimentos sobre linguagens. Ela deve adquirir o sistema de escrita alfabético e desenvolver habilidades de leitura e escrita, a partir das 4 práticas de linguagem.

Como se adaptar às orientações para alfabetização da BNCC

Se você ainda está se adaptando às orientações da BNCC, é importante entender como o documento se estrutura. O site do Movimento pela Base traz resumos, dicas e orientações importantes para professores e gestores escolares.

No caso de já estar montando um plano de aula, você pode se inspirar com os materiais produzidos pelo Nova Escola. Todos estão alinhados à BNCC e são um ótimo modelo para seguir.

Lembramos que a BNCC foi feita para ser consultada e não decorada. Tenha uma cópia salva no seu computador e usá-la como referência para montar planos de aula. Você pode acessar a BNCC na íntegra aqui.

Tenha em mente que a BNCC orienta que o processo de alfabetização deve usar um conteúdo que faça parte da realidade da criança e que tenha significado para o estudante. O principal objetivo é despertar a vontade de aprender a ler e a escrever.

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Olívia Baldissera

Por Olívia Baldissera

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Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo do Blog do EAD.