Como montar um plano de aula com metodologia ativa em 7 passos simples

Postado em 14 de nov de 2023
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Com estudantes cada vez mais conectados e dispersos, metodologias ativas não podem faltar no seu repertório pedagógico.

Um desafio no TikTok ou uma lista das principais angiospermas. O que chamaria mais atenção da sua turma?

Provavelmente seria a primeira opção. Afinal, está cada vez mais difícil conquistar a atenção dos estudantes, independentemente do nível educacional, com tanto conteúdo disponível nas redes sociais e nas plataformas de streaming.

É neste contexto de digitalização que um plano de aula com metodologia ativa se tornou um pré-requisito para garantir o aprendizado de crianças e adolescentes. Neste artigo, você encontrará um passo a passo simples para usar os principais métodos com seus alunos, além de conhecer diferentes práticas.

O conteúdo é baseado no livro "Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática", organizado pelos professores Lilian Bacich e José Moran.

Se você já está familiarizado com os conceitos, recomendo que você passe para a seção sobre como montar um plano de aula com metodologia ativa clicando aqui.

É importante lembrar que as metodologias ativas de aprendizagem não são uma novidade, mas entraram na agenda nos últimos anos pelos desafios que as novas tecnologias trouxeram aos professores. E, claro, por serem um ótimo recurso de inovação.

O que você vai ver por aqui:

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O que é metodologia ativa

Uma metodologia ativa é uma estratégia de ensino baseada na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida. O aluno é o protagonista, ao se envolver de forma direta, participativa e reflexiva em todas as etapas do processo.

Aqui, quando falamos em metodologias, nos referimos às diretrizes que fundamentam o processo de ensino e aprendizagem. Elas foram um conjunto de estratégias, abordagens e técnicas específicas.

A aprendizagem por meio das metodologias ativas acontece por meio de 3 movimentos híbridos:

  1. Construção individual: o estudante escolhe e percorre, parcialmente, seu caminho de aprendizagem;
  2. Construção grupal: a aprendizagem do estudante é ampliada com a ajuda de diferentes formas de envolvimento, interação e compartilhamento de conhecimento com os pares, em diferentes grupos;
  3. Construção tutorial: o estudante aprende com pessoas mais experientes em diferentes campos e atividades. Esse tutor não necessariamente é o professor, pode ser um colega ou um representante da comunidade escolar.

Em todos os níveis a figura do educador é essencial para o estudante avançar no processo de aprendizagem. O professor assume o papel de orientador e tutor nas atividades individuais e em grupo, em que o aluno deve sempre ser o protagonista.

Devido às suas características, as metodologias ativas auxiliam os professores a atenderem os requisitos da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que orienta os educadores a transformarem crianças e adolescentes nos protagonistas dos próprios processos de ensino e aprendizagem.

Como funcionam as metodologias ativas

As metodologias ativas seguem a abordagem da aprendizagem por questionamento e experimentação, diferenciando-se do modelo mais recorrente na história da educação, o de transmissão. Nessa vertente, o professor primeiro transmite o conteúdo aos estudantes para que, depois, eles o apliquem a situações específicas.

Uma metodologia ativa subverte essa ordem ao propor que os estudantes façam experimentações antes de entender a teoria e relacioná-la à realidade. Ela segue uma lógica de indução-dedução, sempre com o apoio do professor.

O formato estimula uma compreensão mais ampla e profunda das disciplinas. O estudante avança na aprendizagem em uma espiral, passando de níveis de conhecimento e competências mais simples para os mais complexos. As metodologias ativas também consideram as interações pessoais, sociais e culturais de cada criança e adolescente no processo.

É importante lembrar que, de maneira geral, toda aprendizagem é ativa em algum grau, pois demanda do discente e do docente diferentes formas de motivação, seleção, interpretação, comparação, avaliação e aplicação.

 

Benefícios das metodologias ativas em sala de aula

  • Maior envolvimento do estudante nas aulas e atividades;
  • Desenvolvimento da autonomia do estudante;
  • Aprofundamento do senso crítico;
  • Maior colaboração e fortalecimento de vínculos com os colegas;
  • Desenvolvimento de senso de responsabilidade;
  • Estímulo ao desenvolvimento das habilidades sociocomportamentais, como comunicação, proatividade, assertividade e empatia.

7 metodologias ativas que todo educador precisa conhecer

Depois de entender o conceito e os benefícios, é hora de conhecer as principais metodologias ativas que podem ser usadas em sala de aula, seja na modalidade presencial, híbrida ou remota.

O que apresentaremos a seguir é um resumo. Se você quiser se aprofundar nas técnicas e aprender outros métodos, o ideal é buscar uma especialização para dominar o uso das metodologias ativas.

1. Aprendizagem baseada em problemas

A metodologia ativa recorre a problemas do cotidiano como ponto de partida para mobilizar conteúdos do currículo, relacionando assim a teoria a situações concretas que serão vivenciadas pelos estudantes.

Geralmente, um plano estruturado a partir da aprendizagem baseada em problemas começa com a apresentação de um caso ou de uma narrativa que contém uma questão que precisa ser solucionada pelos estudantes. Estes devem se reunir em grupo para discutir e criar soluções, dentro de um prazo determinado. Eles têm liberdade para pesquisar e conversar com especialistas sobre a atividade.

Na etapa seguinte, todos devem compartilhar suas ideias e os saberes que utilizaram para resolver o problema. O professor acompanha todo o processo e, ao final, resume os principais conceitos mobilizados para a resolução do caso.

A avaliação nessa metodologia ativa é processual e inclui:

  • Conhecimento teórico adquirido
  • Habilidades
  • Valores
  • Atitudes

O método da aprendizagem baseada em problemas foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de McMaster, no Canadá, e da Universidade de Maastricht, nos Países Baixos, no final da década de 1960. Inicialmente ele foi criado para ser aplicado no Ensino Superior, principalmente nos cursos de medicina, para depois ser adotado na educação básica.

2. Aprendizagem baseada em projetos

A diferença entre essa metodologia ativa e a aprendizagem baseada em problemas é a exigência de criar um produto ao final do processo, que será apresentado à comunidade escolar. Ainda, a aprendizagem baseada em projetos propõe aos estudantes pensarem soluções mais amplas para situações da vida real, enquanto a aprendizagem baseada em problemas muitas vezes trabalha com cenários hipotéticos.

Assim como no método anterior, a aprendizagem baseada em projetos consiste em na apresentação de uma questão relacionada à realidade dos estudantes, que devem debater e buscar uma solução em equipe. A forma de avaliação também é semelhante.

3. Aprendizagem entre pares

O professor de física Eric Mazur, da Universidade de Harvard, é considerado o criador do método de aprendizagem entre pares (ou peer instruction, em inglês). Ele o desenvolveu na década de 1990, ao perceber que tinha dificuldades em abordar os erros mais comuns cometidos pelos estudantes.

Como o nome já diz, a metodologia ativa estimula que os discentes ajudem uns aos outros com as principais dúvidas, a partir do estudo de um conteúdo antes da aula. O método da aprendizagem entre pares geralmente segue as seguintes etapas:

  1. O professor pede para a turma estudar um conteúdo em casa, antes da próxima aula;
  2. No dia combinado, o professor faz as perguntas mais frequentes sobre o conteúdo;
  3. Os estudantes têm dois minutos para pensar sobre as questões;
  4. O professor passa um questionário de múltipla escolha para cada um dos estudantes;
  5. Após toda a turma responder as questões, os discentes devem conversar com colegas que tenham escolhido respostas diferentes das deles. Eles podem formar grupos de 2 a 5 pessoas;
  6. A turma deve responder mais uma vez o questionário para verificar se houve alteração nas respostas.

A aprendizagem entre pares é considerada um exemplo de uma metodologia ativa mais abrangente, a da sala de aula invertida.

4. Sala de aula invertida

Também chamada de flipped classroom, a sala de aula invertida altera o modelo tradicional da aula expositiva. Em vez de apresentar o conteúdo e passar uma lição de casa, o professor irá solicitar à turma que estude a matéria antes da aula. Depois, em sala, os estudantes irão discutir em grupo o que aprenderam. O debate deve sempre ser orientado pelo educador.

Após a aula, cada discente deve revisar o conteúdo e realizar tarefas mais complexas para aprofundar o conhecimento.

Geralmente, o acesso ao conteúdo antes da aula acontece no meio online. O professor pode usar estes recursos para aplicar o método da sala de aula invertida:

  • Lições em vídeo;
  • Podcasts relacionados ao tema;
  • Artigos e reportagens de jornais e revistas;
  • Solicitação de uma pesquisa sobre determinado assunto;
  • Produção de um tutorial para realizar determinada atividade.

Em sala, o educador pode orientar as seguintes atividades:

  • Debates com os colegas;
  • Seminários;
  • Experimentos de laboratório;
  • Aprendizagem entre pares.

5. World Café

O World Café foi desenvolvido em 1995 pelos pesquisadores Juanita Brown e David Isaacs. A metodologia ativa tem como pilar o diálogo entre pessoas com diferentes saberes e vivências. Elas são divididas em grupos, dispostos em mesas redondas, que trocam integrantes entre si a cada rodada.

O World Cafe funciona da seguinte forma:

  • Os grupos devem ser compostos por quatro pessoas. Deve haver, no mínimo, doze participantes, mas não há um número máximo.
  • Devem ser realizadas, no mínimo, três rodadas de 20 minutos cada.
  • A cada rodada, deve ser feita uma pergunta conectada ao objetivo da disciplina. Se preferir, o professor pode fazer uma única questão para as três rodadas. A pergunta norteadora do World Cafe deve se concentrar no "como" e não apenas no "o quê".
  • A cada rodada, os participantes mudam de mesa. O ideal é que eles não sentem mais com as mesmas pessoas.
  • Papéis, lápis e canetas devem ser deixados sobre as mesas, para os participantes desenharem esquemas das principais ideias discutidas.
  • Depois da última rodada, o que foi discutido é sintetizado por todos. Os desenhos elaborados também são analisados.

Nessa metodologia ativa, o professor é responsável por coordenar as rodadas e a rotação dos participantes, além de orientar a discussão ao final da atividade.

6. Design Thinking

A abordagem do Design Thinking pode, sim, ser usada em sala de aula, aliando as principais características da aprendizagem baseada em problemas e da baseada em projetos.

O design thinking é uma abordagem para resolver problemas de forma coletiva e colaborativa, geralmente dividida em 5 etapas quando usada como metodologia ativa de aprendizagem:

  1. Descoberta: divididos em grupos, os estudantes listam suas principais necessidades para solucioná-las;
  2. Interpretação: as equipes procuram inspiração e novas ideias para construir em conjunto uma perspectiva que norteie a etapa de ideação;
  3. Ideação: os estudantes fazem um brainstorming e preparam um plano de ação, a partir do conteúdo da matéria.
  4. Experimentação: os alunos testam as soluções levantadas para resolver o problema.
  5. Evolução: os estudantes desenvolvem o conceito levantado na primeira etapa.

7. Gamificação

A gamificação é a aplicação das estratégias dos jogos nas atividades do dia a dia, com o objetivo de aumentar o engajamento. Essa metodologia ativa pode ser usada de forma analógica ou digital com os estudantes.

Mais uma vez, não estamos falando de uma novidade. Jean Piaget (1896-1980) já falava sobre a importância dos jogos no processo de ensino e aprendizagem. Inclusive, o pensador listou as principais características de um bom jogo educativo:

  • Expressam de forma objetiva e lógica uma grande quantidade de informação em diferentes suportes, como imagens, textos, sons e filmes;
  • Demandam concentração, coordenação e organização do estudante;
  • Afirmação da autoestima do estudante, pois permite que ele veja o resultado de sua ação de forma imediata;
  • Estimulam o estudante a testar inúmeras possibilidades, sem se preocupar com erros;
  • Estimulam a integração e as relações sociais, ou seja, a socialização do estudante;
  • Contribuem para o estudante aprender por si próprio a ser um indivíduo, a respeitar a si mesmo e aos outros e a acreditar no próprio potencial.

🔵Leia também: 6 passos para criar o seu plano de aula com gamificação

7 passos para montar seu plano de aula com metodologia ativa

Seja qual for o modelo adotado, uma boa aula exige planejamento. Confira abaixo um passo a passo para montar um plano de aula com metodologia ativa e, ao final, uma tabela para sistematizar as suas ideias.

1. Escolha o tema

Qual conteúdo será trabalhado na aula? Para definir o tema, você pode se basear na BNCC e no plano pedagógico da instituição de ensino em que você atua.

2. Estabeleça objetivos

O que os estudantes devem ser capazes de fazer após terem contato com o conteúdo? Qual tipo de conhecimento e habilidade eles devem ter adquirido?

3. Delimite o tempo de cada tópico

Saiba qual duração sua aula deve ter e divida-a entre os tópicos que devem ser abordados. Assim você corre menos riscos de acumular conteúdo.

4. Defina os recursos pedagógicos

Os recursos pedagógicos disponíveis irão ajudar a escolher qual metodologia ativa usar. Verifique o que a instituição de ensino oferece.

5. Defina a metodologia ativa

A partir dos objetivos estabelecidos e dos recursos disponíveis, escolha qual metodologia ativa usar. Você pode se inspirar na lista que apresentamos acima e combinar diferentes métodos.

6. Considere a BNCC no seu plano

A BNCC ajudará a definir quais habilidades os estudantes devem desenvolver com a atividade, além de construir um plano adequado às exigências do currículo nacional.

7. Saiba como avaliar a atividade

A avaliação não se resume a uma prova de múltipla escolha. Estabeleça quais critérios serão avaliados além dos saberes adquiridos, de acordo com os objetivos que você elencou no passo 2. É importante explicitar para a turma como será a avaliação.

Depois de seguir este passo a passo, sistematize o seu plano de aula com metodologia ativa em um documento. Ele será bastante útil caso a coordenação solicite o compartilhamento do planejamento, além de servir como referência para práticas pedagógicas futuras.

Você pode usar a tabela abaixo como referência:

Plano de aula com metodologia ativa
Disciplina  
Turma  
Tema  
Objetivos  
Conteúdos  
Duração  
Recursos didáticos  
Metodologia  
Avaliação  
Referências  

Como escolher uma faculdade EAD

Conclusão

Esperamos que este artigo tenha ajudado você a descobrir novas formas de ensinar.

Existem outras metodologias ativas além das que listamos aqui. Se você quer conhecer outras ou até se tornar especialista neste tipo de estratégia, recomendamos a busca por cursos livres e de pós-graduação.

É nestes espaços que você vai encontrar informações atualizadas, confiáveis e baseadas em evidências, além de conhecer pesquisadores e professores que têm experiência no uso de metodologias ativas.

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Olívia Baldissera

Por Olívia Baldissera

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Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo do Blog do EAD.